Não sei as outras pessoas, mas depois que virei universitária comecei a entender um bocadinho mais sobre a palavra universi-dade. Vá lá, não é um outro universo? E eu não tô falando só das festas não, mas já que vocês (que insistem em me ler) gostam é quando eu falo delas, vamos ao ponto G.
Jogos universitários são legais. Tendas lotadas de gente e cerveja, com músicas que despertam a libido também. Festas monstruosas e open-bar de mil bebidas são, definitivamente, demais. Mas quando se quer rir até fazer xixi na calcinha e doer a barriga como se tivesse feito trezentos abdominais, nada como cinco reais, cerveja barata (que dá dor de cabeça ou caganeira, ou os dois), boas companhias, violão e baralho. Eu, sinceramente, prefiro o baralho (atenção, gente. Eu sei que parece erro de digitação, mas foi baralho mesmo que eu quis dizer).
Munidos dessas ferramentas, tudo fica perfeito se estiverem num apartamento com sacada pra uma rua – teoricamente – movimentada, tapete branco e novo da mãe de alguém que vocês não conhecem muito bem e um pote de sal pronto pra virar a qualquer momento. Não contentes, podem colocar um DVD da banda mais depressiva do mundo pra tocar. No começo, parece fossa; depois que as pessoas começam a cantar bêbadas, parece hospício.
Foi assim uma segunda-feira chuvosa, véspera de feriado municipal. Começamos a jogar Poker, mas sabe, três mulheres tentando entender e um homem tentando explicar nunca foi algo que deu muito certo, né? É. Depois de meia hora – sem entender nenhuma regra – tentamos uma rodada. Chato, sem sal (por enquanto) e sem graça. Partimos pro Uno. Esse, pelo menos, todos sabíamos jogar. Único problema: no Uno ninguém aposta nada. Chato, sem sal e sem graça. Eis que surge a brilhante ideia: vamos jogar Porco (pra quem não sabe, procura no Google)!
Nessa altura do campeonato ninguém mais ouvia o que tava tocando. E o porco tem a sua vantagem: a aposta! Legal, com sal e com graça. Sim, porque o pote de sal caiu no tapete novo da mãe desconhecida. Sorte que era sal e que era branco.
Estava tudo bem até eu começar a perder. E foi uma atrás da outra. Me desculpem, mas ou eu bato ou eu abaixo as cartas. Sempre sobrava conversando sozinha com as cartas enquanto todo mundo ria da minha cara com as cartas abaixadas. E lá ia eu pagar a prenda (como diria vovó). Não sei porque bêbados gostam tanto de envolver pessoas que JAMAIS seriam envolvidas se não estivéssemos alcoolizados. Fugi de todos os envolvimentos. Sabe, para muitas pessoas tirar uma peça de roupa é muito pior que ligar pra alguém bêbado, mas pra quem já viu gente sã correndo pelada em locais públicos, tirar a blusa é fichinha.
Enfim, parei de brincar. Resolvi jogar sério. Parei de perder. E pra eu parar de perder, as outras pessoas tem que perder no meu lugar. E elas têm que pagar as apostas no meu lugar.
Não vou citar nomes, mas alguém teve de tirar a blusa e rodar na sacada. Ninguém na rua. Pudor demais, vergonha demais, medo demais. Acontece que, quando a gente não se sente seguro fazendo qualquer coisa, dá sempre alguma merda.
Nem um real, nem cinco, nem mil. Nada paga a alegria geral da galera em ver a baby look preta caindo – em câmera lenta – da sacada do apartamento direto pro pé do coqueiro. Depois teve dancinha. Depois teve nego virando lata de cerveja quente. Depois tiveram depoimentos indesejáveis no orkut, tweets obscuros e mensagens inoportunas. O DVD toca qualquer coisa e por um momento bate saudade de alguma coisa.
No outro dia de manhã, passo pela portaria pra ir embora e paro pra olhar o coqueiro na calçada. Procuro a sacada lá em cima. Olho pra blusa vestindo minha amiga. Se o Google Maps não pegou a gente sem roupa, melhor não contar com a sorte duas vezes. Vai-se a vergonha na cara, ficam-se as histórias. Meus netos vão adorar.