quinta-feira, 29 de julho de 2010

Declaração de amor eterno


Sabe, Zé... nóis é casado faiz tanto tempo e nunca larguemo. Nunca briguemo... assim, briguemo feio de verdade memo, né? Igual a Dolores e o seu Luis. Tinha dia dela saí pa barrê o quintar tuda roxa. Mas nóis não. Das veiz fico aqui pensando cá comigo, por causo de que ocê se apaixonô tanto por conta de mim. Eu sempre fui rechonchuda. Ta bão que tinha donde pegá, mas eu tenho pra mim que num foi por causa disso, né Zé? Cinco fio. 49 ano de casório. Sete neto. Faiz o quê... uns 60 ano que nóis se conhece? E ocê foi largá da Maria Emília por causo deu. Mas ela era feia que dói... mais feia que eu. Ah, Zé... e num é? Inveja nada, seu véio maledito! É a verdade. Inveja, inveja... eu lá ia ter inveja daquela saracura? Sempre foi seca... de tão ruim que era, aposto. Morreu sozinha, viu? Se tivesse casado mais ela tava aí com as frauda tuda suja! Seu véio malagradicido! Inveja, eu? Mas, Zé... fala pra mim, que que ocê viu ni eu que tincantô? Foi meuzói de jabuticaba? Foi minha boca carnuda? Minhas anca é que num hão di sê. Purque sabe, Zé... premera vez queu vi ocê, mim apaixonei mêsm foi pelus zói. Nossinhora! Depois cê deu uma risadinha e eu fiquei mei sem graça... mas só prestava atenção nu zói. Mas fala, Zé. Disimbucha logo, homi. Foi meus cabelo de índia? Foi o que, inferno?
A bunda.
QUÊ?
É, uai. Foi por causo da bunda. Eu nunca menti procê. Seu peitinho é micho, suas perna é gorda, sua barriga é mole e hoje seus cabelo é branco. Mas eu amo ocê, véia... principarmente dis costa. E conta aqui pro seu Zé... gamô nus meu zói por conta di sê azui, foi?
Óia, Zé. Hoji ocê quase nem tem mais pêlo no corpo, os que tem tumbém são branco. Tenho o maior trabai de lustrá essa sua careca perfumosa e acho até charmosin seu saco encostando nus juei. Fora o pinto que num sobe faiz deiz ano. Mas há 60 ano atráis, eu mi apaixonei pur essizói bunito num é por causa di quê eles é azu não. Eu oiava pru teu zói pra esquecê que ocê não tinha dente. Mas eu amo ocê, véio... principarmente durmino do lado da dentadura boiano nu copo. Eu amo ocê!