segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tá Natal demais pra mim hoje

Quando acordei hoje à tarde, abri a porta do quarto e dei de cara com uma arvorezinha empoeirada no fundo do corredor. Quantos anos mesmo a gente bota essa árvore? Não lembro. Esse ano ela ficou do lado do computador, que ficou na sala porque não tínhamos dinheiro para as novas instalações da internet. No fundo, uma parede rebocada de cimento. A toalhinha branca, rendada, foi improvisada em cima do criado-mudo que estava sobrando no quarto da minha mãe. Em cima, um quadro Dele. Não foi presente, mas a gente não tem mais coragem de tirar. Sabe que às vezes eu até converso com Ele? Embaixo quatro bibelôs: um anjinho com a asa quebrada e três santas. Não faço ideia dos nomes delas.
Todos os enfeites da árvore são vermelhos e colados nela. A estrela do topo, um ano a gente resolveu comprar avulsa, mas perdemos em algum lugar. Nada mudou no resto da casa, mas quando eu abri a porta do quarto e vi aquela coisinha de meio metro no final do corredor me deu um negócio que não sei explicar. A gente não pintou a casa de novo, a gente não comprou cortinas pros quartos, a gente não trocou o carro.
Eu pedi pra não colocar a árvore esse ano. Eu queria uma nova, mas por quê? Que graça vai ter o ano em que a gente não puder mais guardar a árvore inteira numa sacola de supermercado sem precisar desmontar? Eu não ligo pra bolinhas coloridas, sempre quebrei todas da casa da minha tia. E esse ano não tem tia de novo. Nada de bolinhas coloridas. Nada de espírito paterno.
Aí vem a música me dizer ‘Children, don’t stop dancing. Believe you can fly away’. A televisão me pisca um monte de ofertas imperdíveis (believe you can fly away). O celular apita novas mensagens da operadora (believe you can fly away). Lá fora já está nevando. O papai Noel me espera no shopping com o saco cheio... de balinhas.
E essa árvore não para de me olhar. Eu continuo sem conseguir explicar esse negócio estranho. Joguei uma água no rosto. Tomei uma caneca de leite. Te abracei bem forte e dei um beijo gostosão na tua bochecha. É muito bom te ter aqui. Mesmo sem estrela no topo, mesmo sem tia, mesmo sem espírito paterno, mesmo sem bolinhas. A árvore ficou linda esse ano, mãe.

7 comentários:

pombinha disse...

não sei se foi a tpm, ou se foi seu texto... ou se foi os dois juntos... mas eu chorei no final ;~

diGuu disse...

ahhhh, O Natal! Ele (ainda) faz isso com as pessoas... coisas pequenas, que significam tantoo..

te amooo mtooooo! sempre!

;****

João disse...

belo texto Lê! :D
Parabéns querida ;*

Samuel Gomes disse...

O lado meigo da Leticia que eu não conhecia!
;)
Parabéns!!
Se eu fosse pouco mais sensível, até choraria!

João disse...

Acabei de postar o 1º capitulo! :D

Unknown disse...

Gostei do teu retorno.
eu que peguei a época em que vc escrevia apenas cartinhas..

saulomsc disse...

Sabe, as coisas que não percebemos e mesmo assim estão lá porque significam algo fazem parte do que somos. Eu tive varios cachorros, nunca cuidei de nenhum, mas brincava com todos. Uns eu tive um puta medo no inicio (leia-se, os Pit bulls do meu Pai) mas depois de um tempo eles eram os amigos retardados que animam a festa! Tive tambem os bonitinhos, aqueles com cara do "gato de botas do Sherk", que por increvel que pareça tiveram os finais mais tragicos... Havia tambem os truques de magica, onde se fazem surgir cinco cachorrinhos do nada, somem do mesmo jeito que surgiram só para aparecerem no dia sequinte com sinais extranhos (o.o)" Enfim, aos que percebem o quanto um detalhe da vida faz a diferença do cojunto de seus carateres um abraço quente e macio, peito a peito.