quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O pegador de baquetas

Era uma sexta-feira perfeita para conhecer o homem da minha vida. O carro era meu, o estacionamento era barato e eu não precisava fazer baliza. Fui na bela companhia do meu amigo – não posso deixar de enfatizar – gay. O lugar era ótimo, a música boa, as companhias perfeitas. Encontrei um amigo de anos. Lindo, gostoso, cheiroso, simpático e com a namorada do lado. Tudo bem, nenhuma intenção por trás mesmo. Foi bom te ver, gato. Eis então que, galgando olhares pelo recinto, deparo-me com um charme incomum. Cabelos estilo anjinho, moreno, barba por fazer. Olhei bem as pernas pra ter certeza de que eram longas, já que ele estava sentado. Tentei olhar, claro, pros velhos anelares direito e esquerdo pra ver se não tinha sinal de compromisso, mas, aparentemente, nada. Tudo bem que ele não parava de mexer aquelas baquetas (e que baquetas!), não dava pra ter certeza de nada.
Prendi o cabelo, soltei, olhei, ri, enfim, fiz totalmente a linha groupie. Só faltou pular em frente ao palco descabelada, implorando pra ele jogar o lencinho suado. Comentei com todas as bichas (desculpem o termo pejorativo, mas outro não seria tão gostoso de pronunciar). É claro que tive que conter o álcool delas pra não mandarem bilhetinhos e me matarem de vergonha pro resto da vida. Poxa, um bar legal nessa cidade dos infernos é tão difícil, não queria me privar deste por uma besteira.
Foi então que ele me olhou. Caramba, que olhada! Correspondeu ardentemente às minhas investidas. Quis dar uma de difícil e saí do campo de visão, pra ver se ele não estava paquerando ninguém (homem, adianto) atrás de mim. Só essa que faltava: bonito, solteiro e gay. Aí não dava; já era demais pra minha existência neurótica de mulher-imatura-carente. Mas, para a minha surpresa, ele desviou a cabeça dos pratos (da bateria, vamos deixar claro) e me procurou. Eu sorri. Ele sorriu.
Finalmente acabou o repertório da banda. Enquanto ele descia do palco, em minha direção, com um olhar fatal de quem, certamente, me levaria de lá para o altar (ou para a cama, de preferência), chegou o bolo do aniversariante da nossa rodinha. Joguei os cabelos pro lado e cantei parabéns feliz e despreocupada, afinal de contas, já já eu iria conversar com o homem da minha vida, o pai dos meus filhos, meu baterista nas horas vagas, meu pegador de baquetas (sintam a propriedade dos pronomes possessivos). Agora, em câmera lenta, eu direciono meus lindos olhos castanhos pro lado do palco e vejo meu homem caminhando na minha direção. Confiro o hálito, ajeito os peitos no sutiã de bojo e dou a última arrumada no cabelo. De repente ele pára, abre os braços e abraça uma filhadaputinha que estava numa mesa em frente a minha. Era a namorada dele. Decepcionada, olhei pro relógio e vi que já havia se passado três horas desde a minha chegada. “Puta que pariu, o estacionamento!”. Saí correndo pra fila e, na saída, dei de cara com o casal feliz. Pensei em jogar meu charme pro cara do estacionamento, mas eu não tinha decote, muito menos peitos. Ledo engano querer jogar charme, a recepcionista era uma velha feia, mau-humorada e, com toda convicção de uma universitária experiente (leu a ironia?), mau-comida. Contei a história do baterista e ela me deu um real de desconto. Tá aí o valor do pegador de baquetas: um real. Despeito feminista? Não, negócios.

4 comentários:

diGu disse...

RIALTO NO ' filhadaputinha ' hAEOUhaouheouehoaEHouehuoeeauaheouhaeouhoeauhouea...
mtoo bom, Le..


te amoooooooo demais, viu!
ever

;*******


digu

Unknown disse...

HUAHaua..
quando vc falou "pegador de baquetas" .. eu te imaginei de madeira.. com pontinhas de nylon... escrito do lado "vick firth!" HUAHUaHauHauahUaha
uma verdadeira baqueta.. =x~

mas apareceu a filhadaputinha.. e vc rodou..

calma le.. vou te arrumar seu engenheiro do amanha..

=***

pombinha disse...

MUITO BOM!

Luana disse...

"um charme incomum". Achou ele um CHARME, Lee? convivência com a Luana.... hauhauhauhauhauhauha :P