quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Não repara a bagunça

Queria te entender menos. Eu sei porquê você faz assim, porquê fala assim, porquê olha assim. Tudo planejado, calculado calmamente. Até o vento assopra pro meu cabelo cair no ombro na hora exata do chamego. Tudo conspira a seu favor e contra mim, claro. Eu vivo bagunçada, tentando entender porque te entendo tanto. E desistindo. E voltando a insistir. É muito chato o mesmo nome na cabeça todos os dias. É muito chato ser pirada assim.
Desculpa a bagunça, vai. Esse canto da casa vive uma zona. De dois em dois meses eu tento dar uma geral, mas é complicado. Logo volta tudo pro chão: livros, roupas, fotos, letras de música, você. É, eu acabo te largando ali no meio. Eu piso em cima dos CD’s velhos; porque agora é tudo mp47, sabe? E você entende disso, né? Eu sei. Tá sempre atualizado e eu, alma tecnológica anciã, acabo ficando pra trás. Mas nem me importo. Só que agora, quem vai querer dar CD com dedicatória escrita a pincel atômico? Quem vai comprar porta-cd? Quem vai gravar uma coletânea das nossas músicas? Tudo bem, deixa pra lá. Eu só queria isso de você mesmo e entendo o porquê nunca vou ganhar.
Legal mesmo seria se você fosse um grande mistério pra mim. Legal seria se nós só nos conhecêssemos daqui uns dez anos. Aí sim, seria tudo bem mais divertido. Eu já teria me decepcionado muito mais e, ainda assim, ia ficar querendo entender tudo em você que eu não entenderia. Mas eu entendo tudo. Eu sei como você gosta de mim, como prefere o meu cabelo e me odeio por ter me deixado ser muito mais sua amiga do que qualquer outra coisa. Eu sei como você pensa em mim e sei que quase nunca pensa. Eu sei o que você acha sexy nas mulheres que eu não sou. Sei que sou final de noite e não final de semana. Sei que sou melhor amiga e não melhor namorada (e talvez nem tanto amiga eu seja assim). Sei que sou um pedacinho de carne louca por um cachorro babão.
E, de repente, eu sinto um incomodozinho na ponta do dedão. Adivinha? É você. Jogado ali enquanto eu entendo cada milímetro seu. Pedindo uma pisadinha, por obséquio, enquanto eu morro de raiva por ter me ligado, por dizer que me ama, por confessar que me quer. E eu ali, entendendo tudo, com você na ponta do dedão do pé. E depois de te odiar, querer casar com você e planejar a sua morte em uma fração de segundos, me torno a pessoa mais macia do mundo quando a sua voz, lá embaixo do meu dedão, sussurra: “Aconteceu alguma coisa, amor?”. Não, nada. Eu só queria conversar.
Eu tô entendendo tudo. Seu jogo, seu gosto, seu desgosto. Eu pego no ar as suas táticas, o seu prazer, a sua vontade de me puxar pelos cabelos e me afogar dentro da privada. Essa risada torta aí enquanto eu reclamo do tamanho da asa da xícara de capuccino? Eu entendo! Esse dedinho safado em cima do meu joelho? Eu entendo. Pode ir embora, perdeu a graça. Não liga pra essa bagunça, é assim mesmo que eu vivo. No meio da tralha, da coisa passada, da coisa suja, da coisa esquisita. Mas não se assuste se eu te entender demais e me cansar.
Eu entendo tanto que dá sono; tanto que dá história; tanto que dá dó. Só não entendo como você tem a capacidade de não me entender em nada. Absolutamente nada.

6 comentários:

Samuel Gomes disse...

Caraca!! Esse texto ficou REALMENTE MUITO BOM!! Estilão Caio Fernando Abreu!!
=D
Gostei mesmo (independente de sua inspiração)!!!

Parabéns, Lêe!!

diiiGu disse...

É, o Samuel começou o comentário dele exatamente com a expressão que eu pretendia: CARACA!

Já está nos meus Favoritos, e vai ter q se acostumar com meus comentários por aqui... aehiehiaeA

te amooooo muito!
e Parabéns!

Digu :*

Unknown disse...

porra lee..
ai sim hein.. gostei desse.. muito mesmo.. x)~

bjo..

gee

Rafael disse...

Adorei muito Le..muito verdadeira! parabens...continuarei lendo!
Até mais
bjo
Rafa

Gah P. disse...

eu sempre gostei desse texto. desde o começo do blog, mas nunca dava pra cmentar.

Unknown disse...

Que isso, Leticia, parece que leu meus pensamentos nesse exato momento! Lógico, elees estão expressos em suas belas palavras...