segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O livro da Ju

Quinta-feira, na aula-mais-chata-do-mundo, pela primeira (ou terceira) vez em dois anos de faculdade quase concluídos eu resolvi sentar na última fileira. Eis que me chega a Ju (todo mundo tem uma amiga Ju?) e abre um livrinho amarelo de capa chamativa e com um título delicioso. Era pro Odair (ninguém tem um amigo Odair!). É claro que eu resolvi dar uma folheada aqui, outra ali e quando vi estava devorando o pobrezinho na aula-mais-chata-do-mundo. É claro também que o Od desistiu de levá-lo emprestado e eu furei a fila cordialmente. Bendita hora que esse livro apareceu! Quando dei por mim estava escrevendo insanamente linhas bem parecidas com o estilo da tal autora. É como ir a uma festa open-bar, quando você vê já tá se pegando com o melhor amigo. Foi assim que voltei a escrever.
Quando era pequena eu escrevia só para as minhas amigas ficarem elogiando. Abria o caderno de matemática na última página e ficava divagando (palavra bonita essa, finalmente usei). Fazia de conta que não queria ser pega no flagra, mas era o que eu mais queria. Então, depois de umas três insistidas eu mostrava o texto e elas ficavam encantadas. Idiotas! Nunca escrevi tanta abobrinha como naquela época. E o pior: elas realmente gostavam. Quantos aniversários de namoro eu não recheei de textículos melosos e sem graça que os namoradinhos achavam que elas tinham escrito especialmente pra eles (eu deveria ter cobrado por isso)!
Todo mundo dizia que eu deveria virar escritora. O que eu fiz? Virei letreira! Não, não; não é daqueles que a gente pendura na frente do botequim (essa foi péssima, mas se não me poupam de ouvi-la, também não os pouparei), é estudante de Letras mesmo. Curiosamente, depois da pressão do vestibular, eu simplesmente parei de escrever. A humanidade foi salva por alguns anos. Mas se você pensa que todo mundo que faz Letras AMA escrever está muito enganado. Sou rodeada por psicólogos, jornalistas, advogados, historiadores e até (pasmem) médicos frustrados. Melhor pra mim. Mas, escritores? Não, ninguém por lá pensa nisso. Melhor pra mim. Tem muita gente preocupada com boas notas e um futuro profissional brilhante. Definitivamente essas pessoas não têm coisas legais para serem escritas. Elas não vão às festas, não enchem a cara, não fazem cagadas das quais se arrependerão eternamente até a próxima cagada da semana (ou do peguete) que vem. Estão sempre tão preocupadas com seu futuro brilhante que esquecem do presente quente! Sexo, drogas e rock’n’roll? Nem pensar. Não que eu me drogue. Não que eu faça sexo. Não que eu ouça rock’n’roll (porra, o que é que eu tô falando?). Bom, eu não tiro boas notas nem estou preocupada com um futuro brilhante. Ponto pra mim!
Depois da aula-mais-chata-do-mundo, no intervalo de respirar, fomos sentar na escada. Conversa vai, conversa vem, a gente começa a falar sobre o que sempre falamos: sexo. Gays, lésbicas e simpatizantes na roda. Eis que chega uma dessas pessoas de futuro brilhante. Por que eu tenho tanto medo delas? Por que me sinto inferior quando elas me olham com uma cara de ‘nossa, Leticia, você é ma-lu-ca!’. Isso é porque eu nem falo dos meus desejos de maçã mordida. E porquê não falo? Porque sou trouxa! Definitivamente. Mas o livro da Ju me libertou! Até admiti que já fumei, quer dizer, experimentei fumar, e não é aquela coisa que se diz ‘nossa, como é bom tragar um cigarro depois de um sexo selvagem’. Acredito que uma barrinha de chocolate, um vinho, ou mesmo uma virada pro lado pra roncar seja bem melhor.
É claro que não vai ser um livro gostosinho que vai me fazer desprender das minhas neuras. Mas já foi um começo, não foi? Até voltei a escrever. Até criei um blog. Até vou divulgar... é, bom... acho que talvez quem sabe um dia, né? Continuo com medo do futuro brilhante dessas pessoas e da frustração das outras, mas quem sabe meu cuspe não cai na testa e eu seja uma profissional brilhante e frustrada? Ponto pra eles.

Um comentário:

diGuu disse...

oauehoeahouaehouaeha fantastico...! D+

;******* (L)