Não, eu não vou começar a dieta
amanhã. Quero te comer cada pedaço sem nem ao menos mastigar. Vou engolir seus
olhos, suas orelhas, seu cabelo, sua boca. Vou passar mal. Quero ser julgada
pela igreja, tendo pecado todos os sete milhões de pecados que eu puder pecar.
Quero que me chamem de herege e me queimem na fogueira. Quero ir para a forca.
E que a força dos seus braços não seja o bastante para se desvencilhar de mim.
Não quero um pio. Nenhuma reclamação. Nenhum olhar 43, nem 69, nem 007. Vou
cuspir seus dentes enquanto palito os meus e, sem desespero, você vai gostar.
Vou chupar seus ossos e a carne também. Lamber os beiços, morder os lábios,
sugar a língua. Vou cortar sua pele com faca de serra e ponta redonda, daquelas
de passar a manteiga no pão, só para demorar mais. Não vou jogar fora nem as
unhas, quero que elas me arranhem por dentro e que seus dedos gentilmente me
arranquem os medos que me impedem de ficar. Quero sua artéria aorta pulsando
dentro de mim. Quero me envenenar das suas venosas. Quero adoçar a sua bile
antes de te deglutir. Quero te temperar com canela e jogar os cravos fora.
Quero ser a borboleta do seu estômago; a rosa vermelha dos seus instintos; a
orquídea branca do seu coração. Quero que seus olhos vejam o que ninguém nunca
viu. E quando eu chegar ao átrio, que o ventrículo não esmoreça, que o tesão
não desobedeça e o amor não desapareça. Que os seus músculos me destruam e eu
te vomite sorrindo. Que você ressuscite odiando. Que eu não me despeça chorando.
Que você me tempere com sal a gosto e esqueça o banho-maria. Que me engula, me
lamba, me chupe, me coma, me tenha. Que a gente engorde e que corramos por três
noites seguidas, livrando-se do mal pelas gotas de suor.
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