segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Espresso de domingo


Fim de temporada. Passa-se um café no meio da tarde de domingo. Doce, fraco e morno. Como ela, talvez, deveria ser. O pão adormecido implora por um mergulho no leite. Ela, um mergulho no mar. Ou então, num rio. Doce, fraco e morno. Imagine só quantos problemas seriam evitados se a vida fosse aquele café: doce, fraca e morna. Deseja um trago, um gole, mas já passou das seis. Precisa fazer do mundo uma passagem leve e saudável, como nos livros de culinária para solteiros. Precisa amar o próximo. Precisa querer bem. Precisa de uma dieta balanceada, sexo seguro, drogas legalizadas e planos para o futuro. E o que fazer se o futuro for agora? A cigana disse que era o seu dia de sorte; que a linha da vida da sua mão é longa; que os dedos são curtos; que a maré baixou. Mas ela só quer deixar o perfume do café amaciar os cantos duros do seu lar. Ela quer lar. Quer lá. Aqui. E Mi. Fá, Sol, Lá, Si. Nada de Dó. Nada de não. Só um pouco de água fresca e sabão neutro pra lavar a alma e salvar dos pecados. Esfregar com escova de cerdas macias. Esfregar. Esfregar. Esfregar. Amaciar. Estender no varal. Amanteigar a bolacha de água e sal. Cochilar no tapete. E quando o sol se por, a tarde refrescar e a lua vier coroar o céu de estrelas; e quando a vida finalmente for aquele café, ela vai espreguiçar-se, tirar a camisola e passar o seu último espresso corto: amargo, forte e quente. Como ela, definitivamente, é.

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