segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A lanterna dos afogados


Noite dessas quebrei o salto. Cruzei o portão de casa trançando as pernas e mergulhei no quintal.  As estrelas se afogavam em mim. O céu lambava dentro dos meus olhos. E eu? Eu só queria contar nos dedos os náufragos das cadentes. E eu pensava nos náufragos da vida. E eu pensava no dinheiro. E eu pensava no futuro e no dinheiro. E eu pensava nos problemas com os quais eu acabaria quando eu tivesse dinheiro. Então eu escolhi ser engenheira civil. Arquiteta. Advogada. Funcionária pública. Deputada. Tripulante; capitã. Enfermeira-chefe. Cirurgiã plástica.
Acontece que eu coloquei pedra no peito, vaselina na veia, água no barco, dinheiro na calcinha, vontade na privada, ética no lixo e a casa abaixo. E eu criei problemas nos mundos das outras pessoas pra sanar os problemas do meu mundo.  E os problemas do meu mundo... os problemas do meu... os problemas do; problemas?
De repente eu naufraguei nas dores que eu tinha criado, só porque escolhi não ser.
Foi quando eu senti a vida remexer com salto de pau o caldeirão que borbulhava em mim. E eu fechei a lua dentro dos meus olhos, enquanto o mar sassaricava os cantos da janela d’alma.
E eu era uma mulher de pernas trançadas que não queria mais o mundo de ninguém.
Eu naufraguei.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belíssimo texto amiga!
Como a maioria dos que vc escreve.
É bom saber que ainda existem pessoas que "sentem" e fazem por "sentir"...

Um beijão! =D

Sua delicia! hahahaha!