Ela falava, falava, falava e, enquanto suas
palavras sem sentido sobrevoavam o meu quarto, eu fitava o quase não movimento
dos seus seios que, com os mamilos daquele jeitinho, friccionados embaixo da
regata de algodão lilás, diziam-me tudo o que eu queria ouvir naquele momento.
A minha insensibilidade a magoava, eu sabia. Mas aquele cheirinho de corpo
amassado, recém acordado ao meu lado, com um pouco de bafo e remela nos olhos –
eu confesso – e que ela corria pro banheiro consertar enquanto eu me excitava vendo-a
de costas, me deixava sem fala. Ela, nessa fúria incessante pelas minhas
palavras, pelos meus sentimentos, pelas minhas expressões, ela... ela pensa que
eu ligo para as dobras que formam sua barriga quando ela senta de calça jeans
apertada. E, quer saber? Eu reparo mesmo. Reparo na banha, nas celulites, nas
estrias, nas camadas. Mas reparo mais nas coxas, nas curvas, nos buracos e
lombadas que arrepiam também todas as minhas imperfeições de macho alfa. Ela
pensa que eu não sei que ela também se arrepia quando vê um gatão de barriga
tanquinho? E que não fica excitada quando eu a irrito com meu silêncio? E que
não gosta quando eu calo a sua boca com um beijo ou uma chupada? Ela sabe, no
fundo ela sabe que é igual a mim. E que toda a nossa dedicação mútua pelo sexo
oral perfeito é maior prova de amor do universo! E que tudo o que ela me fala
não faz sentido algum, enquanto ela se troca esbaforida depois do orgasmo,
ofendida porque eu dormi ou fumei. Eu até gosto, porque sua voz histérica
sempre me acorda quando está pondo o sutiã, com as costas nuas, enquanto eu rio
e conto suas pintas pela milésima vez. Ela vai reclamar de novo que não a amo
igual, que eu não gosto o suficiente, que não estou mais apaixonado. A sorte
dela é que eu não falo. Não falo, não digo, não repito e não proclamo o meu
amor. É que se eu falasse tanto quanto ela gostaria, não sobraria tempo pra
amá-la tanto quanto é verdade. Não é que eu queira, não é que eu possa ou que
eu faça ser assim, mas enquanto abro a minha boca burra pra dizer "Eu te
amo", já te amei mais do que possa caber nas aspas e, involuntariamente,
desisto de falar.
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