Eu era um passarinho e me chamava Alegria. Em latim, era tudo o que eu queria dizer. Piquescondeava entre as flores. Ziguezagueava no ar. Tinha cheiro de cupuaçu e podia comer com açaí. Não era colorido, eu; mas manchava a ponta das peninhas no pólen. Tinha um palácio de galhinhos secos. Tinha ovinhos brancos. Tinha de voar.
Voei, eu... mas não pro sol. Meu nome era Alegria, Ícaro é que não havia de ser. Três ovinhos brancos, chocochacoando no ninho. Uma marolinha de esperança cor-de-laranja-de-feira.
Com minhas asas, voava pra onde queria. Conheci mar. Conheci montanha. Conheci uma passarinha laranja que me ensinou que a fruta do morango é a semente. Que castanha de cajú faz bem pras penas. Eu disse: "caju não tem acento". Ela me bicou, presenteou-me com uma de suas penas e voou. Ela não tinha ninho com ovinhos brancos que chocochacoavam.
Eu sou uma passarinho que se chama Alegria. Eu choco meus ovinhos brancos. Eu guardo lembrança da passarinha laranja. Eu sou colorido e tenho uma marolinha de esperança. Conheci amar. E mar. E mais: conheci uma passarinha que tinha de voar.
2 comentários:
É.
Por instantes, os textos de Letícia sugam toda a sensibilidade que alguém normal cogita possuir. Se o sobrenome dela não fosse Flores, certamente seria BeijaFlores.
Neste post, o seu passarinho derramou óleo de buriti em cima de cada letrinha. Soube ser alegre,soube ser livre, soube ser idílico, soube ser pungente. Soube ser vivo.
É.
Será que ele sabe escrever como a Letícia?
Gostei muito desse! Gostei mesmo, Lê! Quase autobiográfico, e bonito.
PS: não sei fazer críticas como o cara acima =//
Mas meu gosto é sincero, sabe disso! ;)
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