Sofia não era uma virgem qualquer. Falava de sexo com a prepotência de alguém muito experiente; enganava muitas pessoas assim. Não que isso fosse bom. Boas moças, dessas pra se casar, não devem ser como Sofia. Mas agora ela tinha um namorado. Pobre garoto. Em poucos meses, percebeu que ela não era tão doce e que o poder de o ser nas horas mais inesperadas era apaixonante. Viciante. Sensual.
Paciente, ele soube lidar tão bem com o mau-humor e o azedume da namorada virgem, que a comeu. Vitorioso, mal sabia ter ele sido um peãozinho no tabuleiro de Sofia. Não que ela fosse uma cleptomaníaca de pintos virgens, mas ela gostava do que era bom. E o seu pinto virgem não era bom pra ela.
Duas semanas depois do pé na bunda, esbarraram-se na sorveteria que costumavam frequentar. Ela, dissimulada, sentou-se na mesa do casal. Riam-se todos. Clima leve. Alma limpa. Tudo ia bem, até ele soltar uma piada-velhas-virgens inconveniente – e esse era o seu forte – ‘mas eu só queria te comer’. Elas se entreolharam. Ele engoliu seco, percebendo a cagada. Curiosamente, ela riu. ‘Mas agora posso dizer que fui ginecologicamente testada por você’. Levantou-se. Pagou o sorvete. E da entrada da sorveteria pronunciou sorrindo: ‘porque o que você chama de sexo, pra mim pareceu um teste... e péssimo, diga-se de passagem’.
Clima pesado na sorveteria – e esse era o seu forte – sim, o de Sofia.