segunda-feira, 13 de maio de 2013

Chá pra lá


Não, eu não gosto de chá. Nem de cidreira, nem de erva-doce, nem de cogumelo. Podem me matar, mas, por favor, sem Matte - eu não gosto de chá. Não me venha com essa água quente numa caneca atraente com um saquinho pendurado no barbante. Não me venha com sete ervas emagrecedoras, nem com dias de frio, nem com minutos de calma. Eu não quero me acalmar. Eu não quero chá. E não me olhe com essa cara de desdém de quem não tem mais a quem odiar. Traga uma bebida mais cheirosa, um gosto mais encorpado, uma caloria mais vigorosa. Traga um capuccino, um café, uma cerveja, uma tequila ou uma pinga. Ou não traga nada. Venha sem bebidas, sem cardápio, sem roupa e sem vergonha. Venha. Mas com chá, não me convenha. Traga seus medos mais bobos e os deixe no tapete da porta da sala, junto com seus sapatos e o seu pudor. Entre com seus pecados mais sujos e decore minha castidade com a sua cruz esquálida de um verão passado no qual eu sei, eu sei o que você fez. E sem chá de canela, nem de camomila, nem de Daime, nem de amor. Porque se chatice fosse bom, não começava com chá. Não se começa nada com chá. Não se me começa com chá. Não se me come com chá. Deixe esse xôxo morno e sem gosto expressivo para as nossas avós. Ou deixe pra quem gosta, adora, ama e se derrama numa porção de chá de boldo, chá de limão com mel, chá de xaxim. Saque o sachê do bolso e vá para outra freguesia. E não adianta usar outras línguas, outras melodias, outros sabores. Não curto o sabor ralo de um chá verde, nem amarelo. Chá de bebê? Deus me livre - eu me nego! Meu negócio é café preto, forte, quente e quase sem açúcar. Daqueles que te deixam com a ponta da língua ardida o resto do dia. Que te fazem lembrar da quentura angustiante, do cheiro sedutor e, sobretudo da dor. Se despeça e leve esse chá-to pra lá. Meu bem, eu não gosto de chá.

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