Fim de temporada. Passa-se um
café no meio da tarde de domingo. Doce, fraco e morno. Como ela, talvez,
deveria ser. O pão adormecido implora por um mergulho no leite. Ela, um
mergulho no mar. Ou então, num rio. Doce, fraco e morno. Imagine só quantos
problemas seriam evitados se a vida fosse aquele café: doce, fraca e morna.
Deseja um trago, um gole, mas já passou das seis. Precisa fazer do mundo uma
passagem leve e saudável, como nos livros de culinária para solteiros. Precisa
amar o próximo. Precisa querer bem. Precisa de uma dieta balanceada, sexo
seguro, drogas legalizadas e planos para o futuro. E o que fazer se o futuro for
agora? A cigana disse que era o seu dia de sorte; que a linha da vida da sua
mão é longa; que os dedos são curtos; que a maré baixou. Mas ela só quer deixar
o perfume do café amaciar os cantos duros do seu lar. Ela quer lar. Quer lá. Aqui.
E Mi. Fá, Sol, Lá, Si. Nada de Dó. Nada de não. Só um pouco de água fresca e
sabão neutro pra lavar a alma e salvar dos pecados. Esfregar com escova de
cerdas macias. Esfregar. Esfregar. Esfregar. Amaciar. Estender no varal.
Amanteigar a bolacha de água e sal. Cochilar no tapete. E quando o sol se por,
a tarde refrescar e a lua vier coroar o céu de estrelas; e quando a vida finalmente
for aquele café, ela vai espreguiçar-se, tirar a camisola e passar o seu último
espresso corto: amargo, forte e quente. Como ela, definitivamente, é.