Eu te trago uma poesia, um cinzeiro, uma rosa e um postal. Logo eu, que vivo com as línguas na ponta da metáfora. Eu que esqueci as figuras. Eu que não trouxe palavras. Um suspiro, um susto, um sopro; eu trago. Um sussurro no céu da alma. Eu trago fortunas e fadas e fronhas. Meio litro de sonhos, trouxeste. That’s a little, little, little, sweetheart. Trouxeste ainda três dedos de tequila. Tantos temores trazidos, trazendo, transados. Eu te trago um cheiro no queixo, uma cabeça grande, uma bunda pequena, uma aorta pulsando assim: ta-trago, ta-trago, ta- trago.
Trouxeste tua traqueia, teus dentes, teu lábio, dentro de duas de mim batendo em mim no postal que rasgaste. Tremendo uma das línguas nas minhas veias: tremivo. Tequila, per cortesia. Tequila, te mira, te quiero... disseste da rosa que secou? Senza lettere, sin palabras... justo eu que esqueci as armas. Uma simples sensa...ção; fração de segundos, centésimos, centímetros. Sementes? O cinzeiro caiu, e se viste no fundo das cinzas meu gosto, viste a ti.
Eu que te trago meus ombros nus, uma mão na cintura por baixo da blusa, um brindar ojos nos ojos. Tragar olhando nos olhos é amar. Tu que trouxeste a mudez e essa miudeza de mim, toda semente dentro de mim, toda a mentira, toda – a menina; mania.
Eu te trago uma poesia, um cinzeiro, uma rosa e um postal. Mas a rosa secou, o postal foi rasgado, o cinzeiro caiu e a poesia acabou. Feito charuto cubano, dez anos depois: se foi. Mas se fosse poeta traria outra, tragaria mais. Se quisesse, tragava, traria, tremia, mirava, marava.
Eu te trago uma poesia e um pouco do pouco que sei que só sou sem armas, sem roupas, se a mais.
Eu trago.
E ainda parece que faltou um pouco da sua cevada no meu nariz.