terça-feira, 22 de junho de 2010

Re-partindo a alma

Fiquei fora por três dias e, quando voltei, meu quarto estava todo branco. Bonito, mas sem graça; igual aos modelos do SPFW. Igual a mim. Sem graça igual a mim. Fechei os olhos e tentei, pela primeira vez, não me questionar. Queria não entender todo esse branco com gosto de nada. Não adianta pintar as unhas de vermelho e depilar a alma. Não adianta limpeza de pele, nem massagem com pedras aromáticas. Não adianta tentar gostar de mulher. Não adianta parar de menstruar; nem cortar, nem pintar, nem hidratar, nem foder todo o cabelo. Não adianta transar o mundo. Não adianta o mundo transar você. Não adianta. Não vai adiantar.
E se não vai adiantar tirar a roupa agora pra tocar meu violão sem meus seios implorarem para não serem mais espremidos por essas três bolhas malditas, o que é que vai adiantar então? Se eu perdi a conta das minhas pintas porque não enxergo as costas, o que é que se faz? E se eu não tenho espelho em casa, e se minhas piadas são engraçadas e se a rosa não abrir? Vai me olhar com essa cara derrotada e pedir pra eu ficar? Nesse quarto colorido e fedido? Nesse corpo bonito e sem graça? Nessas mãos pequenas? Nesse peito mudo?
Me desculpa, mas não dá. Eu fiquei fora por três dias e jogaram tinta guache no teto da minha alma. Escorreu pro peito. Caiu no útero. Parou no pé. Aí eu chutei você e sua semgracisse. Eu chupei o mundo pra dentro do meu umbigo. Eu cuspi um filho de dentro do meu cordão. Eu abri as pernas pro oceano às duas horas da tarde na praia de Santos. E antes de escrever um texto pro cara que eu conheci com a língua da língua de lá, voltei pro meu quarto branco, pro meu teto manchado, pra minha alma depenada, pras minhas unhas vermelhas. Voltei pras minhas entranhas, minhas estranhas, meus úteros e meus cordões. Arrastei uma lata de tinta branca e mergulhei pelada dentro. Porque o branco é sem graça como eu. E mesmo sabendo que não vai adiantar, eu abro meus braços brancos pro seu sorriso e te deixo me manchar. Na verdade, vá em frente; tem um milhão de latas brancas pra me repintar. A verdade é que eu não quero mais me repintar. A verdade é que querer não vai adiantar.

4 comentários:

Camila. disse...

Lets! Sinceramente nunca irei me cansar de ler suas palavras. Por isso, faço um apelo: nunca deixe essas palavras perdidas por aí. Un bacio, fiore del mio giardino!

R. disse...

nossa! sempre acho q nao serei mais surpreendido com suas palavras... E sempre me mostra o contrário!

demais.!

te amo mto... e sempre!
bjoss, Le ;******* (L)

Mariana disse...

lee, vc escreve muuiitoo bem !!

Beatriz disse...

Preciso mesmo levantar eu ego? acho q não. minha gata garota escritora!