sexta-feira, 6 de julho de 2012

Peito de silicone também balança


Escovando os dentes, hipnotizada pelo movimento rotineiro de vai-e-vem da escova na boca, reparei que dentro da meia-taça de algodão, preguiçosos, meus seios balançavam. E, por um instante – um milésimo de segundo – esqueci-me que por baixo daquela pele fina e branquela, dançava um peito plastificado. Um pra quem sente, dois pra quem vê. Curiosamente, um outro movimento, esse involuntário, brigava do lado esquerdo da prótese. Ali, escondidinho atrás de 255ml de volume extra, batia meu coração. O único batimento em sintonia com o meu corpo, com meu calor, com minhas confusões. Balançavam os três, entre o canino e o molar, que eu esfregava freneticamente. Gosto de dentes brancos, hálito fresco, boca limpa e língua macia. Talvez, estivesse esfregando também o meu ego e meus sentimentos. Talvez tentasse limpar a sujeira de quem passou por ali e que, ironicamente, tornou-se a minha própria sujeira. Eu viajava. Espumava de ódio e gozo. Meus olhos liam no espelho o julgamento que eu fazia das pessoas que, por livre arbítrio, foram embora de mim – dos meus olhos, dos meus dentes, dos meus peitos. Eu queria resolver os meus problemas ali, naquele momento. Queria cuspi-los na pia, ralo abaixo, e deixá-los escorrer pelos canos com a espuma do creme dental. Não, eu não queria engolir. Eu queria chorar. Queria alguém para culpar. Queria gritar aos quatro ventos o quão bem resolvida eu sou. Mas minha boca estava cheia; meus olhos estavam cheios; meu estômago estava cheio e eu estava farta! Pois não há coisa mais chata do que gente que não sabe o que quer. Não existe incômodo maior do que a insegurança dos outros. Enquanto isso, meus seios pulavam. Pareciam querer dizer qualquer coisa que me pudesse calar. Calei. E entre um ML e outro, entre um batimento e outro, balançando por trás do sutiã, meus três peitos gritavam: antes de tentar resolver os outros, resolva-se.