Eram três livros na cabeceira. Duas mulheres e um homem. Estava bom. Ela poderia ser feliz assim. Mas alguém queria lhe despir o gosto adocicado da solidão. E por quê não? Sempre o fez. Acontece que agora ela queria mais do que apenas se despir. Ler, assim, vestida apenas por uma xícara de café; a verdade no pé, a libido nas mãos.
E cada página virada é um comprimido do esquecimento. Mas queriam mesmo é deixá-la nua. Fazê-la livrar-se de tanto orgulho, amor próprio. É tudo demais nessa mulher!
Foi então que pintou a cara. Decidida a vestir a máscara, esperou. Uma. Duas. Três horas. O homem lhe chamava à cabeceira. As mulheres sussurravam de-va-gar. Foi desvestindo cada peça acompanhada de um nó na goela com gosto de merda. Nem sapo, nem perereca; era merda.
Olhou-se no espelho. Como era linda desvestida. Só uma xícara de café. Delineador preto à la Lispector. E só uma xícara de café. O cabelo já não cobria mais os seios. Só uma xícara de café?
A calma quis aproximar-se. Viu abrigo nesses três. Allan. Patrícia. Clarice. Eram três livros na cabeceira. Um homem, duas mulheres. Estava bom? Estava bom... até alguém lhe querer frustrar sua frustração.
Mascarada ela podia mais, nua ela podia tudo. Desmascarada, no entanto, não pararia para refletir a metafísica de estar só. Ódio não era pior que não-amor. Prometer era pior que não amar.
“Ah... como eu te odeio!”
Quer uma xícara de café?