terça-feira, 28 de junho de 2011

Idiotagens da vida

Foi esperando um idiota que eu não te vi passar no ponto. Não senti o seu cheiro de leite, não travei, não bambiei. Foi esperando um idiota que não suei as mãos, não gaguejei e nem fiquei febril. Esperando um idiota foi que não me apresentei, não me sentei, não tomei café. Não sorri sem graça, não derrubei o vinho, não vomitei. Por causa de um idiota, não olhei sua bunda, não escutei seu sorriso, não te disse o silêncio que eu digo quando sinto isso. E quando você passou bobinhomenininhomirradinho e, brincando me deu uma flor feiasemcheirosemcor, eu entendi: a idiota, ora bá, era eu! Ô, menininho, espera eu?

domingo, 12 de junho de 2011

Mamão-moinho

Há quatro moinhos de vento plantados em um pedaço meu. O do umbigo sussurra entre as pás o que todos os outros espalham pelo ar: quem é você? E desde que me entendi por qualquer coisa parecida com pensamento, desde que enterro o indicador direito no umbigo,  que acaricio o lóbulo da orelha, e que nunca tenha chupado chupeta, pergunto-me o mesmo. Perguntava. Primeiro, à mamadeira; até ela ser substituída pelo copo plástico e, este, pelo de vidro, que acabou numa xícara de café amargo embaixo do sol de uma manhã de inverno paulista. E, enquanto o vento soprava nas quatro pás, perguntava aos próprios dedos: quem são vocês? E, eles, em resposta, namoravam-se entre si: polegar direito com esquerdo, mindinho com anelar, médio com indicador. Procurei, então, qualquer coisa mais pensante que um dedo ou uma mamadeira: apelei à mamãe. Suspirando um sorriso longo, esboçou uma vontade tremenda de satisfazer a minha dúvida, ou a do meu moinho, quem sabe. Levantou-se calmamente, foi até o mamoeiro, levou-o até a cozinha, abriu a fruta no meio e me entregou, dizendo: “tire semente por semente. A cada uma, pergunte ao mamão quem ele é e só pare quando ele te responder”. Indignada, peguei uma colher, raspei as sementes todas de uma só vez e lambuzei-me toda de mamão. Nunca tive paciência pra miudezas melecadas. Desde então, os moinhos se desfizeram de fora pra dentro, derretendo no meu corpo. O do umbigo escorreu como um rio e seus afluentes, achando morada intrauterina. E toda vez que sinto frio, arrepio, ódio, paixão ou como mamão, sei que há um vento gelado soprando em mim. E as hélices só vão parar quando todas as sementes de todos os papayas e graúdos e docinhos acabarem. Daí, quem sabe, eu as encontre em outro lugar, qualquer um que não seja o meu mamão.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

"pra que ele possa ser de alguém"

Fez amor comigo uma vez e meia. Uma, pra mim. Pra ele, duas. Então uma e meia... fica assim mesmo. Dormiu, quase morto, babou um bocado. Abriu a geladeira, fechou o zíper. Eu queria que ele ficasse. Ele estava entediado;
Transamos uma vez só. Bem feito. Acabado. Gozado. Acordei e ele ainda estava do meu lado. Me olhava. Babava. Fechou a geladeira, abriu o zíper. Eu queria que ele fosse embora. Ele estava apaixonado.